ARTIGO | A Educação para as relações étnico-raciais

Palavras-chave:

Vitalina Silva

Professora de Língua Portuguesa da Rede Municipal de Camaçari - Ba

Técnica da DAI/COPE - Secretaria da Educação do Estado da Bahia

Vencedora do Prêmio LED da Fundação Roberto Marinho

 

A história da cultura africana e afro-brasileira é elemento fundamental para o enfrentamento ao racismo cotidiano que faz parte da vida dos estudantes afrodescendentes e indígenas brasileiros. Esta realidade perversa não pode encontrar conforto no argumento de que o racismo é estrutural, justificando os crimes diários. Sim, racismo é crime e não importa se é midiático ou escamoteado de racismo recreativo. Essa tentativa de classificar o racismo como uma coisa menor é um método para a sua permanência. O silêncio sobre o tema, especialmente nos ambientes escolares, é a ferramenta ideal para a manutenção de um currículo hegemônico, etnocêntrico e incapaz de encarar a história do nosso passado com humanidade, levando em conta as inúmeras lacunas deixadas pelo arquivo da escravidão, consolidando, assim, o racismo epistêmico.

Este ano, comemoramos 21 anos da aprovação da mudança na legislação que possibilitou a inclusão da obrigatoriedade no currículo oficial da rede de ensino da história e cultura africana, afro-brasileira e, posteriormente, indígena. A conquista foi fruto de muita luta dos movimentos negros, mas ainda somos surpreendidos por notícias que nos fazem questionar a sua força. O trabalho com a educação para as relações étnico-raciais deve ser estabelecido para assegurar o campo teórico e possibilitar avanços nas atitudes práticas, pautadas no antirracismo como estratégia de sobrevivência. O currículo escolar deve contemplar o reconhecimento da diversidade histórica e cultural da nossa sociedade ou corremos o risco de achar que narrativas de autoria negra, que entendem e incorporam as religiões de matrizes africanas nas suas tecituras, não são dignas de fazer parte do currículo escolar.

Ainda sobre currículo, é preciso a realização de um movimento disruptivo inadiável e insubmisso, capaz de interferir na manutenção do viés eurocêntrico privilegiado, como única forma de conhecimento. Aprender ou reaprender o currículo escolar sob uma ótica afrorreferenciada deve promover autonomia intelectual para ressignificar conhecimentos e avançar no enfrentamento da naturalização do racismo. Ao nos depararmos com o caso de uma estudante negra que teve o seu caderno violado e com ofensas racistas, pensemos que, anteriormente ao fato, houve um planejamento arquitetado para o sofrimento subjetivo que atinge a vítima em sua dignidade humana.

Precisamos refletir sobre quais foram os códigos condescendentes que permitiram a jovens estudantes concretizar uma ação tão ofensiva e qual a ressonância de tudo isso no campo do direito, da saúde, da segurança e da educação. O que aprendemos com o racismo nosso de cada dia? Esta é uma prosa para outro artigo.

 

Publicado no Jornal A Tarde de 22/05/22024

 


 

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